papel e voltou a dormir. Na manhã seguinte, antes que ele contasse à mulher, ela lhe disse que sonhara com
o mesmo número e que também o havia anotado. Ficaram pasmos com a coincidência, na certeza de que
era um aceno da fortuna e do fim dos problemas financeiros que viviam. Era a sorte batendo finalmente à
porta. Correram à rua e entraram na primeira casa lotérica que encontraram. Só havia um bilhete à venda.
Precisamente o de número 47 296. Ah, pensaram com mais certeza, a fortuna estava garantida. Na hora do
sorteio, que era transmitido pelo rádio, aguardaram — muito seguros, mas ansiosos — as bolinhas numeradas revelarem o 5º, 4º, 3º e 2º prêmios, até finalmente chegarem ao 1º. E o bilhete sorteado foi 69 274. Portanto, o número sonhado, porém invertido. Podem imaginar a decepção de marido e mulher. Consideraram o acontecimento uma gozação do destino. Alguns dias depois, falando sobre o assunto, lembraram que, por causa de uma goteira na cabeceira da cama, os dois estavam dormindo havia mais de um mês com a cabeça virada para os pés. Invertidos, portanto.
Manoel Carlos
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Há quem jure que essas histórias são verdadeiras. Há quem as negue e até ria de quem as conta e de quem
as ouve. Não me surpreendo com nenhuma das duas reações. É a verdade de cada um.
Clau Srt
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